Existencialismo
Existencialismo é um termo que designa várias correntes filosóficas que investigam a existência. Entre as principais ideias do existencialismo estão temas como o indivíduo e a experiência da escolha, além de reflexões acerca da liberdade humana, sempre confrontada por limitações e condições capazes de frustrar as melhores expectativas e habilidades humanas.
Em consequência dos riscos que envolvem existir e fazer escolhas, o existencialismo aborda os sentimentos de fracasso, temor e de absurdo diante das nossas experiências. Por isso mesmo, o existencialismo atingiu o seu apogeu na Europa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em uma sociedade totalmente desencantada e destruída pelo uso da violência extrema e a morte de milhões de pessoas.
A obra do filósofo Kierkegaard é, em geral, considerada a criadora do existencialismo. Por outro lado, o existencialismo de Jean-Paul Sartre teve uma influência grande na filosofia entre os anos 1950 e 1960, quando gerou repercussões na literatura, no teatro e no cinema. Para o existencialismo de Sartre, ser humano é o mesmo que ser livre, e a maior prova disso consiste na possibilidade de sempre dizer não.
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Resumo sobre existencialismo
- Existencialismo é um conjunto de filosofias ou correntes filosóficas que investigam a existência humana.
- É uma filosofia sobre o desejo humano de tornar possível as suas escolhas.
- Para o existencialismo, existir significa relacionar-se com as coisas do mundo e com as outras pessoas.
- As escolhas individuais e as inúmeras possibilidades geradas por elas são algumas das principais ideias do existencialismo.
- O existencialismo se tornou uma filosofia muito popular entre as décadas de 1950 e 1960.
- O existencialismo refle acerca das dores do mundo, o fracasso, a doença e a morte como partes significativas da experiência humana.
- Os pilares do existencialismo podem ser encontrados em muitos lugares, por exemplo a fenomenologia de Edmund Husserl.
- Entre os principais autores existencialistas destacamos Kierkegaard, Karls Jaspers e Jean-Paul Sartre.
- Muitos livros sobre o existencialismo são populares, entre eles O mito de Sísifo, de Albert Camus.
Videoaula sobre existencialismo
O que é existencialismo?
O existencialismo é um conjunto de filosofias ou correntes filosóficas que abordam, de forma particular, o problema da condição singular dos seres humanos neste mundo. O existencialismo investiga, portanto, a existência humana, sendo esta concebida como os mais diversos modos de ser humano no mundo, com condições e possibilidades previamente determinadas e limitadas.
O existencialismo se tornou uma filosofia muito popular entre as décadas de 1950 e 1960, tendo algumas de suas principais ideias aplicadas ao teatro, à literatura e ao cinema.
Para o existencialismo, existir significa relacionar-se com as coisas do mundo e com as outras pessoas. Essas relações, contudo, não são necessárias, e as novas situações que elas criam são imprevisíveis, inseguras e instáveis. O existencialismo pensa nessas relações em termos de possibilidades e oportunidades de existência. As relações consistem em possibilidades de colaboração, solidariedade, comunicação, amizade ou competição, rivalidade, violência, ódio e guerra. Tudo vai depender de escolhas e ações.
A existência, portanto, reserva aos seres humanos a capacidade de prever e projetar ativamente o desenrolar no tempo de suas relações. Para o existencialismo, as relações humanas têm o caráter de antecipação dos futuros, das expectativas e dos projetos, assim como das normas e os valores que disciplinam esses projetos de vida.
A liberdade humana de escolher e criar está intimamente ligada às normas e aos valores. Por exemplo, as normas e valores servem para garantir que uma casa será construída de modo seguro para satisfazer o projeto da vida de alguém de morar nela.
Para o existencialismo, o mesmo serve para as normas morais.

As regras e os valores que limitam as ações servem para projetar relações humanas pacíficas e estáveis e ordenadas, de modo a evitar violências e hostilidades. Apesar disso, as expectativas ou projetos continuam sendo possibilidades, mais ou menos seguras, nunca infalíveis. Por isso, o conceito de possibilidade é uma ideia fundamental para o existencialismo.
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Características do existencialismo
Algumas das principais características do existencialismo são:
- Afirmar que o ser humano tem uma existência finita e age por sua própria conta e risco, sendo desvinculado de qualquer força infinita como a razão, o absoluto, o espírito ou a humanidade.
- Caracterizar o ser humano como “lançado no mundo”, entregue às possibilidades de cada situação e aos determinismos de um mundo indiferente aos seus desejos.
- Defender a liberdade humana mesmo que ela esteja sempre sendo condicionada por muitas limitações que o tempo todo podem torná-la oca e estéril e fazê-la recair no que já foi feito ou pensado.
- Rejeitar a noção de progresso necessário das ações humanas, típica do idealismo e do romantismo, uma vez que é impossível entrever garantias de possibilidades nas ações humanas.
- Investigar e refletir acerca das dores do mundo, o fracasso, a doença e a morte como partes significativas da experiência humana.

Principais ideias do existencialismo
Entre as principais ideias do existencialismo estão temas como o indivíduo e a experiência da escolha, além de reflexões acerca da liberdade humana, sempre confrontada por limitações e condições capazes de frustrar as melhores expectativas e habilidades humanas.
Além disso, uma das principais ideias do existencialismo é a ideia de possibilidade. A análise existencial envolve, muitas vezes, o confronto com as possibilidades de cada situação. Segundo Heidegger, o Daisen (ser-aí), isto é, o homem, é essencialmente a sua possibilidade, o que pode escolher conquistar ou perder no seu próprio ser.
A existência é uma das principais ideias do existencialismo. A existência é diferente de consciência, espírito, pensamento, imaginação etc., uma vez que eles servem para interiorizar no homem a realidade ou o mundo na sua totalidade, tornando nele uma realidade imanente. Por isso, diante das possibilidades no horizonte que o mundo oferece, o existencialismo defende a existência autêntica.
Karl Jaspers aplicou o termo autêntico para indicar o ser que é próprio da existência humana, em oposição à perda de si mesmo ou de sua própria natureza, o inautêntico.
Quais são os pilares do existencialismo?
Os pilares do existencialismo podem ser encontrados nas origens do pensamento filosófico e científico moderno. O antropocentrismo e o racionalismo, na Modernidade, convergem na ideia de que os humanos nascem em circunstâncias dadas — fatores biológicos, sociais e históricos que funcionam como o primariamente dado — e transformam as suas circunstâncias em um mundo, um local em que podem viver, e não apenas sobreviver.
No século XX, os pilares do existencialismo estão na fenomenologia de Husserl, que elaborou o conceito de transcendência. Esse conceito é fundamental para o existencialismo de Sartre e Heidegger. Segundo ele, nas relações entre sujeito cognoscente e objeto conhecido, mas também no desejo e na volição, o objeto não está dentro do sujeito, pois permanece fora do sujeito e se oferece a ele como fenômenos de carne e osso.
Autores do existencialismo
Alguns dos principais autores do existencialismo são:
- Kierkegaard
- Heidegger
- Karl Jaspers
- Jean-Paul Sartre
- Albert Camus
Existencialismo de Sartre
O existencialismo de Jean-Paul Sartre é uma das concepções mais radicais sobre a liberdade humana na história da filosofia. Acredita que somos sempre livres, mesmo em situações que a maioria das pessoas diria não existir qualquer opção de escolha. Para o filósofo, ser humano é o mesmo que ser livre, e a maior prova disso consiste na possibilidade de sempre dizer não.
O existencialismo de Sartre desenvolve a ideia de que a existência precede a essência. Ele rejeita a noção de uma natureza humana predefinida, argumentando que os seres humanos são lançados no mundo primeiro, e então, por meio de suas escolhas e ações, definem a própria essência.
Para o existencialismo de Sartre, a existência humana é caracterizada pela liberdade radical e pela responsabilidade, negando a predestinação e destacando a capacidade do indivíduo de moldar ativamente sua própria essência por meio das escolhas e ações.
O existencialismo de Sartre também pode ser definido como um humanismo ateu. Ele separa a humanidade de qualquer fim ou valor supremo neste mundo, uma vez que Deus não é o criador, portanto a condição humana é marcada por incerteza, instabilidade e imprevisibilidade. Diante dessa singularidade, o existencialismo de Sartre revela a humanidade como eterna capacidade de agir para recomeçar e reinventar novos fins para o ser humano.
Em outros termos, o existencialismo de Sartre reconhece nos humanos uma natureza em si, pela qual estamos sujeitos aos determinismos biológicos e do meio ambiente; e uma natureza para si, pela qual os humanos buscam a realização de um sentido ético para a vida.
O homem é um ser em si e é um ser para si. Quer dizer, na ausência de Deus, a humanidade foi vista como a criadora das suas próprias finalidades, recobrindo a vida com camadas de sentidos que não se encontram previamente definidos na natureza em si.
Sendo assim, o existencialismo de Sartre postula que a liberdade é a condição existencial dos seres humanos. A vida humana se realiza, por meio da ação, ressignificando constantemente a natureza em si com o uso do imaginário e da ética.
Em conclusão, o existencialismo de Sartre é uma filosofia do desejo, considerado a morada da liberdade humana. As faculdades do desejo, da imaginação e da transcendência fazem dos humanos seres imediatamente livres.
→ Videoaula sobre o existencialismo de Sartre
Livros sobre existencialismo
- Temor e tremor, de Soren Kierkegaard.
- A náusea, de Jean-Paul Sartre.
- O ser e o nada, de Jean-Paul Sartre.
- O mito de Sísifo, de Albert Camus.
Quem criou o existencialismo?
Os filósofos existencialistas costumam referir-se a Kierkegaard como um desenvolvedor do existencialismo. Kierkegaard insistia na importância da possibilidade, inclusive na possibilidade do nada, o que torna as relações do homem com o mundo, consigo mesmo e com Deus dominadas pela angústia.
De acordo com Kierkegaard, a impossibilidade do que é possível corrói as expectativas ou capacidades humanas, além de frustrar cálculos e habilidades com a oposição do acaso e das possibilidades insuspeitas.
Sendo assim, na filosofia do criador do existencialismo, a relação do homem consigo mesmo, que determina a ideia de eu, a pela desesperança, uma vez que todas as possibilidades podem ter sido percorridas e esgotadas, e o futuro se torna fechado e cinzento diante do ser humano, recaindo no sentimento de niilismo que foi muito pensado por filósofos do século XIX.
A relação com Deus, que parece oferecer um caminho de salvação da angústia e do desespero, porque para Deus tudo é possível, não pode mais oferecer certeza nem repouso para o ser humano.
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Exercícios resolvidos sobre existencialismo
1. Em sua obra O ser e o nada, o filósofo francês Jean Paul Sartre trata da condição humana, mais precisamente, da liberdade. Para o referido filósofo, o homem, pela sua condição de ser homem, é ser livre. Portanto, ele, o homem, é fruto de sua liberdade porque, no seu dia a dia, escolhe as ações que fará. Dessa forma, a liberdade não é uma conquista humana, mas é uma condição da própria existência dele, do homem.
Explica o filósofo que “Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] Assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser”.
Jean-Paul Sartre. O ser e o nada. (Adaptado)
De acordo com o referido filósofo, se somos livres, temos sempre de escolher. Ao analisar essa premissa, como condição em uma sociedade capitalista, afirma-se que “Se você fracassa, as escolhas foram suas”. Essa afirmação mais popular decorrente da premissa de Sartre está centrada no entendimento de que
a) o Estado é que proporciona a capacitação para as escolhas.
b) o capitalismo é que pode oferecer o trabalho remunerado.
c) a formação familiar é limitante para a educação do filho bem-sucedido.
d) a formação escolar é determinante para as escolhas de um sujeito.
e) o próprio indivíduo é quem escolhe seu percurso de projeto de vida.
Resposta: E
Resolução: De acordo com a premissa de Sartre, o indivíduo é livre para fazer escolhas e, portanto, é responsável pelas consequências dessas escolhas. A afirmação “Se você fracassa, as escolhas foram suas” está centrada na ideia de que o indivíduo é responsável por seus próprios fracassos e sucessos, pois ele tem liberdade para escolher seu próprio caminho na vida.
Fontes
BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
