Analfabetismo funcional
O analfabetismo funcional é entendido como um processo em que os indivíduos têm habilidades básicas de leitura, escrita e interpretação de textos ou problemas lógico-matemáticos, mas não dispõem de habilidades que lhes permitam utilizar esses conhecimentos em contextos práticos. Pode ser observado, por exemplo, em situações em que os indivíduos sabem ler e escrever, mas não conseguem utilizar esses conhecimentos em seu cotidiano.
O analfabetismo funcional impacta diretamente a vida dos indivíduos, impedindo que eles em serviços públicos e direitos, além de dificultar a inserção em postos de trabalho mais complexos e menos precarizados.
No Brasil, o analfabetismo funcional atinge 3 em cada 10 pessoas, sendo a maioria composta por jovens. Em outras partes do mundo, observa-se que o analfabetismo funcional impacta principalmente os países em desenvolvimento. Neste texto, buscamos analisar o analfabetismo funcional e compreender suas características e efeitos sociais.
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Resumo sobre analfabetismo funcional
- Analfabetismo funcional é uma situação em que o indivíduo tem apenas as habilidades de leitura, escrita e interpretação lógico-matemática de forma básica.
- Esse fenômeno é causado por fatores sociais, políticos e econômicos, podendo ser observado, inclusive, no ambiente familiar.
- No Brasil, 3 em cada 10 indivíduos são analfabetos funcionais. Esses dados não são diferentes de outras partes do mundo, atingindo principalmente os jovens.
- O analfabetismo pode ser classificado em cinco níveis: absoluto, funcional, elementar, intermediário e proficiente.
- No Brasil, o analfabetismo funcional é permeado e acentuado pelas desigualdades sociais. Em regiões com baixo IDH, observa-se que a qualidade do ensino público tem impactos diretos na formação educacional desses indivíduos.
- No mundo, evidencia-se que países em desenvolvimento têm os maiores índices de analfabetismo funcional.
- O analfabetismo funcional é acentuado em países em conflitos sociais, políticos e econômicos.
- O analfabetismo funcional impede que os indivíduos em direitos, serviços ou oportunidades de trabalho mais vantajosas, além de serem mais suscetíveis à desinformação e às fake news.
O que é ser analfabeto funcional?

O analfabeto funcional pode ser definido como a pessoa que dispõe de conhecimentos básicos como a leitura, a escrita ou a realização de operações matemáticas básicas. No entanto, o que difere o analfabeto funcional de uma pessoa alfabetizada consiste exatamente nos limites dos conhecimentos. Enquanto a pessoa alfabetizada tem conhecimentos que lhe permitem interpretar textos complexos, realizar operações matemáticas mais avançadas, o analfabeto funcional tem maior dificuldade com essas tarefas.
A expansão da educação pública no Brasil, aliada à sua perspectiva universalizante, isto é, de ser ível a todos os cidadãos, possibilitou, em grande medida, a escolarização de crianças, jovens e adultos. Esse processo, fortemente impulsionado pela Constituição Federal de 1988 e pelas políticas públicas desenvolvidas a partir da década de 1990, corroborou para um crescimento no número de pessoas matriculadas nos mais diversos ambientes educacionais.
Esse processo, que permitiu o quase desaparecimento do analfabetismo no Brasil, contribuiu para o surgimento de um novo fenômeno, ou seja, o analfabetismo funcional. De acordo com alguns pesquisadores|1| o analfabetismo funcional é caracterizado quando os alunos escolarizados ainda apresentam dificuldades em buscar, avaliar e organizar informações de modo a aprender, resolver problemas e tomar decisões para a vida.
Dessa maneira, o analfabetismo tem impacto direto na vida dos indivíduos, impedindo que estes, por exemplo, possam almejar postos de trabalho mais elevados, adquiram informações e outros conhecimentos por meio da leitura, além de contribuir para uma dinâmica que pode afetar as relações sociais nas quais ele está inserido.
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Causas do analfabetismo funcional
As causas do analfabetismo funcional são uma confluência de fatores que, combinados, ocasionam problemas na formação educacional. Todavia, não existem fatores determinantes nem únicos, mas sim um conjunto de elementos que impactam significativamente o processo educacional.|2| Alguns desses fatores estão associados:
- ao método de alfabetização;
- à estrutura dos sistemas públicos de ensino;
- à política de material didático;
- às políticas educacionais para o alinhamento dos níveis de aprendizagem nas escolas.
Por outro lado, alguns estudos|3| apontam ainda:
- ausência de estímulo à leitura e à escrita fora da escola;
- desigualdade social e econômica;
- problemas na formação dos professores;
- diminuição na qualidade do ensino básico.
Esses fatores, combinados, acentuam o problema do analfabetismo funcional, contribuindo para um processo que impede os estudantes de adquirirem conhecimentos e habilidades importantes para o prosseguimento nos estudos, o mercado de trabalho e a vida como um todo.
Dados do analfabetismo funcional
De acordo com dados do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), 30% das pessoas de 15 a 64 anos no Brasil são analfabetos funcionais, isso representa 3 em cada 10 brasileiros. Ao considerar a série histórica apresentada pelo indicador, observa-se que o número de analfabetos funcionais aumentou significativamente, partindo de cerca de 25% em 2015 para 27% em 2022, quando foi realizado o último censo. Os dados ainda demonstram que apenas 12% da população têm proficiência plena, ou seja, habilidades e conhecimentos avançados em leitura e escrita.|4|
Em escala mundial, observa-se, com base nos dados da Unicef, que, em 2024, o percentual de analfabetos funcionais no mundo representava 29% da população. Em comparação com os dados dos últimos 10 anos, evidencia-se que o percentual de analfabetos funcionais no mundo caiu cerca de 10%.|5|
No entanto, esses indivíduos estão espalhados por todos os níveis educacionais, tendo maior concentração no Ensino Fundamental. Esse processo atinge principalmente homens e indivíduos com idade entre 15 e 39 anos. Dessa maneira, pode-se verificar que, embora o número de analfabetos funcionais tenha diminuído em todo o mundo, os percentuais apresentados demonstram uma situação preocupante, uma vez que essas habilidades são importantes nos mais diversos aspectos da vida, sobretudo a leitura e a escrita.
Quais são os níveis de analfabetismo?
O analfabetismo pode ser classificado em cinco níveis:
- Analfabeto absoluto: não consegue reconhecer letras ou números.
- Analfabeto funcional: dispõe da capacidade de leitura e escrita de frases simples. No entanto, tem dificuldade de interpretar e usar informações básicas.
- Elementar: compreender textos curtos e com vocabulário limitado.
- Intermediário: tem a capacidade de leitura de textos mais longos e interpreta informações mais complexas.
- Proficiente: apresenta conhecimentos de leitura e escrita e interpretação de textos complexos, tem capacidade analítica e de resolução de problemas com autonomia.
Analfabetismo funcional no Brasil

O analfabetismo funcional no Brasil atinge 3 em cada 10 pessoas. Essa situação, agravada pelas desigualdades sociais e econômicas que permeiam nossa sociedade, acaba impactando significativamente a vida dessas pessoas. Embora os índices de escolarização no país tenham aumentado nos últimos anos, permitindo uma diminuição expressiva no percentual de analfabetos, destaca-se, por outro lado, um crescimento do analfabetismo funcional.
Esse processo, conforme demonstram os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional, é presente, principalmente, entre os adultos e em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nesse sentido, observa-se que nessas regiões, muitas vezes, há uma desigual qualidade no ensino público, o que acentua a evasão escolar e as dificuldades no aprendizado.
Essas desigualdades em termos de qualidade do ensino público, aliadas a fatores sociais e econômicos, produzem um agravamento no analfabetismo funcional, tornando esses indivíduos mais vulneráveis e sujeitos a condições de vida e de trabalho mais precárias.
Analfabetismo funcional no mundo
Embora o mundo seja marcado por uma diversidade de experiências educacionais, observa-se que o analfabetismo funcional é um fenômeno preocupante. Dessa maneira, aponta-se que as desigualdades econômicas e sociais impactam diretamente no percentual de alfabetização e analfabetismo. Países com o Índice de Desenvolvimento Humano elevado têm menores percentuais em termos de analfabetismo funcional, em detrimento de países mais pobres.
Esse processo se justifica, sobretudo, pelas diferenças em termos econômicos nos investimentos em educação, na formação de professores ou na estrutura educacional. Além disso, essas disparidades estão relacionadas ao contexto social. Países em conflitos civis, guerras ou instabilidades econômicas e sociais apresentam os maiores índices de analfabetismo.
Consequências do analfabetismo funcional

O analfabetismo funcional tem impactos diretos na vida dos indivíduos, que, ao terem habilidades limitadas em termos de leitura, escrita e interpretação lógico-matemática, são afetados das seguintes formas:
- baixa produtividade no trabalho;
- dificuldades para o o a serviços públicos e direitos básicos;
- menor participação política e cidadã;
- exclusão nos meios digitais (tornando-se mais suscetíveis e vulneráveis diante de fake news).
Ademais, o analfabetismo funcional também atua na reprodução dos ciclos de pobreza. Os indivíduos, ao não terem habilidades educacionais e intelectuais mais amplas, acabam enfrentando maiores dificuldades na busca por formas de trabalho mais dignas e melhor remuneradas.
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Exercícios resolvidos sobre analfabetismo funcional
1. (PRJ – 2019) O analfabetismo funcional tem sido um tema amplamente debatido pela sociedade e pela academia. Há sujeitos que são considerados alfabetizados, contudo apresentam baixa habilidade de interpretação e não compreendem o que leem. Na perspectiva do letramento, tal fenômeno ocorre porque:
a) não há interesse dos estudantes em aprender a ler e escrever, uma vez que a sociedade atual desvaloriza a função social da escrita em favor das imagens e dos sons, em es tecnológicos.
b) aprender a ler e escrever e apropriar-se da língua escrita são processos idênticos que são desconsiderados pelas metodologias de aquisição da língua escrita, gerando o insucesso da alfabetização.
c) aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia de codificar e decodificar a língua escrita, ao o que apropriar-se da escrita significa assumir a propriedade da língua escrita, o que se constrói a partir de sua função social.
d) aprender a ler e escrever deve ocorrer nos anos iniciais da escolaridade e, como isso não acontece, os estudantes carregam essa dificuldade por toda sua vida acadêmica, uma vez que os docentes dos anos finais não têm a função de alfabetizar nesse segmento de ensino.
Resposta: A alternativa “C” está correta porque ela afirma que aprender a ler e escrever é dominar a técnica de codificar e decodificar a língua escrita. No entanto, a apropriação da língua escrita, ou seja, o letramento, ocorre por meio do entendimento da sua função social. Trata-se da habilidade de entender o texto lido, relacioná-lo com outras informações e utilizá-lo de maneira crítica em diferentes situações.
2. (UFPR) Observe a figura a seguir sobre as taxas de alfabetização da população jovem e adulta, bem como a taxa de analfabetismo funcional no país.
(BRASIL, Ministério da Educação. Disponível em http://simec.mec.gov.br/pde/graficopne.php)
Analise as afirmações acerca da Educação de Jovens e Adultos no Brasil e assinale a alternativa correta.
a) Ainda nos falta alfabetizar mais de 8% da população adulta no país, mas esse esforço é muito complexo, porque essa população é quase toda constituída por pessoas idosas, que encontram muitas dificuldades para se deslocar até as escolas.
b) A população jovem e adulta analfabeta no Brasil chega a atingir 13 milhões de pessoas, distribuídas indistintamente na cidade e no campo, em todas as regiões do país e em todos os estratos e classes sociais.
c) O analfabetismo é um fenômeno com fortes consequências sociais, e, para ser combatido, é preciso induzir os jovens e adultos a frequentarem a escola, pois de outra forma muitos continuarão a não dominar a lectoescrita.
d) O analfabetismo funcional atinge quase 30% da população jovem e adulta, incapaz compreender textos simples. No Brasil, consideramos analfabeto funcional o jovem ou adulto que tem escolaridade inferior a quatro anos letivos.
e) O analfabetismo funcional deve ser reduzido drasticamente no Brasil, de acordo com o novo Plano Nacional de Educação, mas para isso é preciso que seja dada prioridade a essa modalidade de ensino, uma vez que atualmente ela é de oferta facultativa pelo poder público.
Resposta: A resposta correta é a letra “D”. O analfabetismo atinge quase 30% da população brasileira, sendo a sua maioria jovem e adulta.
Notas
|1| e |2| MATOS, Euzene Mendonça Barbosa; DE SOUSA MATOS, Benedito; ALVES, Francisco Regis Vieira. Analfabetismo funcional: reflexões sobre o desenvolvimento educacional no Brasil. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 6, p. 575-592, 2021.
|3| ARAUJO, Luciane de Sousa Lopes. Analfabetismo funcional, alfabetização e letramento e ações da escola. São Paulo: Dialética, 2022.
|4| INDICADOR DE ALFABETISMO FUNCIONAL (INAF). Indicador de Alfabetismo Funcional. MEC, 2021. Disponível em: <https://alfabetismofuncional.org.br/folder/>
|5| UNICEF. Analfabetismo funcional não apresenta melhora e alcança 29% dos brasileiros, mesmo patamar de 2018, aponta novo levantamento do Inaf. UNICEF, 2024. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/analfabetismo-funcional-nao-apresenta-melhora-e-alcanca-29-por-cento-dos-brasileiros-mesmo-patamar-de-2018-aponta-novo-levantamento-do-inaf
Fontes
ARAUJO, Luciane de Sousa Lopes. Analfabetismo funcional, alfabetização e letramento e ações da escola. São Paulo: Dialética, 2022.
MATOS, Euzene Mendonça Barbosa; DE SOUSA MATOS, Benedito; ALVES, Francisco Regis Vieira. Analfabetismo funcional: reflexões sobre o desenvolvimento educacional no Brasil. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 6, p. 575-592, 2021.